21 de março de 2011

Um diA istO tinha de acOntecer....


"UM DIA, ISTO TINHA DE ACONTECER.
Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança
caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua
adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus
descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais
qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível, dinheiro no bolso. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha
emagreceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões
Atlânticos e festivais de música, bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar
restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da Internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquer_coisa_phones ou i_pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas
décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum.
Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada;
uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como
mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à
escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura, capacidade e competência, solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato
colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem,
atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são
empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que
inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer
melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?
Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma
generalização injusta.

Pode ser que nada/ninguém seja assim."

9 comentários:

BibaRita disse...

Bem concordo em parte mas discordo na maior parte do tua opinião maracujá.

Convivo diariamente com uma gente da minha geração sem carros oferecidos pelos pais, quanto mais depósitos de combustível, seguro ou manutenção automóvel.

Convivi com a minha geração e a uns aninhos mais abaixo pelas vicissitudes da vida que me levaram a frequentar a Universidade uns anos mais tarde e ai sim reparamos que não é nos pais que está o erro mas na sociedade e na ambição desmedida de dinheiro e status social...

(venho já terminar que agora tenho que terminar o trabalho se não fico á rasca ;)

BibaRita disse...

Já agora Xani.. isto é da tua autoria ou tem dedito?

Maria Alexandra Paredes disse...

nada dE minha AUToria...
enviaraM-me... e acHei muitO interessante partiLhar convOscO..
acrediTo sinceramEnte que nãO é a JustificaçãO LogicA de todo esTe caoS que os Jovens...a sOciedade em geraL se encontraM, no entantO ao Ler vejO que muiTas verdades dificeiS de absoRver são aQui neste textO expostas...
cOncordo em grande partE com esta opiniãO... pOrque também fOcou o facTo de ainda haver consideráveis exempLOs desregrados que não têm necessariameNte de Levar cOm roTULos enrascadOres!

O que me dOi e LamnetO na verdadE é ver meu PaíS assim... a merGULhar nUm desesperO seM fundO....

SantaRiti disse...

Já li vários textos em relação à dita geração à rasca, em quase todos concordo com algumas coisas, mas também discordo de outras...

De modo algum não posso culpar os pais, porque quanto a mim sempre me habituaram a lutar por aquilo que quero, mas acima de tudo a viver com aquilo que tenho e que posso. Sem exageros nem deslumbramentos! E é essa ideia que espero passarum dia para os meus filhos se um dia os tiver...

Anónimo disse...

Cara Alexandra,

agradeço-lhe o destaque que deu ao meu texto neste seu cantinho.
O original encontra-se no meu blogue, "Assobio Rebelde".
Cumprimentos
MªAnjos

maracujá disse...

Parabens peLa REBELdia dO sEu bLogue :)

Gostei muitO de Ler esta sua opiniãO em partiCULar.

Cumprimentos Alexandra (maracUJá)

BibaRita disse...

assobio:alerta:assusta

Neste caso só gostaria de saber se é pai ou mãe?

BibaRita disse...

Este é um comentário a este post no seu blog original. esta partilha a minha opinião. Leiam vale a pena:

"Em resposta ao meu pai, minha mãe e ao Sr. "Assobio Rebelde",

nem eu nem ninguém pode julgar uma (ou duas) gerações. Até porque enquanto jovem e mãe que sou continuarei a cometer alguns (talvez muitos) excessos perante a educação dos meus filhos. O "não", a própria vida nos ensina o seu significado e não podemos culpabilizar quem quer que seja (muito menos os nossos pais) se ao longo da infância e adolescência não nos fizeram sentir na pele o que ele representa. Concordo com alguns pontos afirmados pelo sr. "Assobio Rebelde, discordo (obviamente) com outros, e é nesses que me focarei.

Quem de nós não quer o melhor para os filhos (geração futura - seja a que vem, seja a minha ou a tua) ? Quem de vós olha para trás e mudaria um sim por um não olhando nos olhos do filho/a e sentindo que "é merecido....se disser que não, não vai entender....até porque EU DEPOIS RESOLVO". Claro, o facilitismo em que se viveu e vive (o mundo quase todo) teria que terminar um dia (que ainda não chegou). Mas se perguntarmos se se mudaria alguma coisa, não, claro que não. Queremos sempre o melhor e mais fácil para os nossos descendentes, todas as linhagens futuras que nós geramos serão diferentes. Terão facilidades numas coisas e dificuldades noutras, e então? Não é isso o progresso? Seja ele positivo ou não.

O problema aqui colocado é a materialização de sentimentos, e o "boom" que surge nas novas tecnologias. Todos têm, todos querem. Habituámo-nos a um conforto que sai caro. Geração frustrada ? Com "ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional" ? Que me perdoem a ignorância mas o que vejo são várias gerações à rasca, que com os meios que têm (ou lhes são permitidos - pois a censura anda à solta) se tentam expressar. Oportunidades de demonstrar tal aptidão, tal inteligência que dará azo ao tal "ego insuflado" é que pouco ou nenhumas existem. Existe sim uma escravidão e usurpação de direitos e total falta de civismo. Vivemos, isso sim, numa selva. E de quem é a culpa? De todos nós sem excepção.

Não me identifico com essa "geração jovem (...) que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou", "dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere". Dentro do que é a minha realidade tive as minhas amarguras e ultrapassei algumas dificuldades. Mas claro que cada um por si, acha que passou pior que o vizinho.
Considero que existem desmotivações, revoltas que levem a um "punhado" de exemplos menos bons. Desculpem a minha imaturidade e a superficialidade dos meus pensamentos e palavras. Mas neste momento somos todos "tanques de guerra", guerra do dia a dia, da luta pelo comer na mesa e das contas pagas, a identificação da mentira e a revolta das injustiças, a falta de sigilo e total e descarado roubo de toda a educação e civismo que os nossos pais MUITO BEM nos transmitiram e ensinaram (por mim falo). Se todos fossemos menos materialistas e mais humanistas / sentimentalistas talvez ( e é claramente uma suposição) não estivéssemos nesta situação precária e ridícula que atinge (quase) toda a gente em que a base de toda a "crise" é financeira mas o resultado é a agressão, culpabilidade inexistente, falta de moral, falta de civismo, falta de senso comum, falta de respeito pelo próximo e mesmo pelo próprio.

Mas sejamos fortes, vamos agarrar a positividade que ainda reside nestas gerações à rasca pois queiramos quer não somos o futuro e educamos o futuro. A bem ou a mal amanhã o sol nasce outra vez e se tudo correr bem cá estaremos para mais um dia. Força e vamos ser criativos para ultrapassar essa fase sem queremos agredir ou culpar gerações, pessoas ou até passar pela infeliz sensação de falhanço.

Tudo é um ciclo, este é só mais um....

15 Março, 2011 17:42"

maracujá disse...

vaLe sempRE a pena... mas a ALma essa nãO podE nunca ser pequENa... casO contrariO os ciCLos tOrnam-se vicioS frustrantEs...

também concoRdo com o comentariO...mas no meU ver... a oPinião do "AssOBio" continUa sendo a mais váLida ...

mas ainda sÓ fUi fiLha...